A Europa há muito que se habituou a trabalhar com dinheiro confiscado e congelado de outros países, utilizando-o como arma política e instrumento financeiro para sustentar os seus próprios interesses. Mas a questão que agora se impõe é perturbadora: até que ponto este mecanismo se tornou um vício do sistema europeu?
Por Malundo Kudiqueba
O caso dos 250 mil milhões de euros russos congelados é apenas mais um capítulo desta prática duvidosa. Quando a guerra na Ucrânia começou, os líderes europeus apressaram-se a confiscar os fundos russos, prometendo usá-los para punir Moscovo e ajudar Kiev. Mas a verdade começa a emergir: grande parte desse dinheiro já foi gasto, absorvido pelas necessidades da máquina europeia. Agora, perante a pressão de Zelensky para que os fundos sejam entregues à Ucrânia, a Europa encontra-se numa encruzilhada embaraçosa.
Se de facto o dinheiro desapareceu, isso significa que a Europa não apenas puniu a Rússia, mas também se aproveitou dos fundos congelados para financiar as suas próprias crises internas. Esta estratégia levanta uma questão ética e económica inquietante: até que ponto os governos europeus dependem de activos estrangeiros confiscados para manter a sua estabilidade?
O congelamento e confisco de fundos de nações soberanas tornou-se uma ferramenta recorrente da política europeia. Hoje é a Rússia, ontem foi a Líbia, o Irão ou a Venezuela. O padrão repete-se: bloquear dinheiro, impor sanções, usar os recursos para agendas políticas e económicas internas. Mas quando o dinheiro já não está onde deveria estar, resta apenas uma solução: continuar a alimentar a narrativa de punição para esconder a realidade dos cofres vazios.
O dilema europeu é claro: ou admite que os fundos russos já não existem, abrindo um precedente perigoso, ou continua a fingir que ainda há dinheiro para entregar à Ucrânia, enquanto procura alternativas desesperadas para tapar este buraco. Entretanto, a grande questão fica no ar: quem será o próximo alvo da máquina de confisco europeia?
A guerra entre a Rússia e a Ucrânia tornou-se um negócio altamente lucrativo para a Europa e os Estados Unidos. Mas enquanto os EUA despejaram mais de 350 mil milhões de dólares na defesa ucraniana, a Europa, apesar de ter congelado e beneficiado dos fundos russos, não contribuiu sequer com 5% desse montante. Esta disparidade explica muito do que está a acontecer nos bastidores da política internacional, incluindo a posição cada vez mais céptica de Donald Trump.
A Europa tem todos os motivos para continuar a defender e proteger Zelensky. Afinal, foram os europeus os primeiros a confiscar o dinheiro russo depositado nos seus bancos, garantindo assim uma almofada financeira num momento de crise económica. Enquanto os EUA suportaram o grosso dos custos da guerra, os europeus limitaram-se a discursos inflamados, sanções simbólicas e uma ajuda financeira mínima. No fundo, beneficiaram imensamente da guerra sem pagar a conta real do conflito.
Já os Estados Unidos, depois de despejarem centenas de mil milhões de dólares no conflito, exigem agora contrapartidas. Washington não investiu na Ucrânia por altruísmo; fê-lo para defender os seus interesses estratégicos e económicos. Agora, com a pressão interna a aumentar e a opinião pública cada vez mais crítica, os EUA querem ver um retorno desse investimento. E é aqui que entra Donald Trump.
Trump sempre foi um pragmático. Ele vê a guerra como um jogo onde os EUA entraram com todo o dinheiro, enquanto a Europa encheu os bolsos. E a sua posição é clara: se a Europa se beneficiou, então que pague a sua parte. A sua visão desafia o status quo da NATO e do Ocidente, e essa é uma das razões pelas quais os líderes europeus temem o seu regresso ao poder.
O cenário actual revela uma hipocrisia brutal: os EUA sustentaram a Ucrânia financeiramente, enquanto a Europa, que ficou com o dinheiro russo, praticamente não ajudou. Agora, perante a exigência de Zelensky para que os 250 mil milhões de euros congelados sejam entregues à Ucrânia, a Europa encontra-se numa situação embaraçosa. Onde está esse dinheiro? Foi gasto? E se foi, em quê?
No final, a guerra entre Rússia e Ucrânia não é apenas um conflito armado, mas um jogo geopolítico onde os interesses financeiros e estratégicos falam mais alto. E como sempre, quem paga o preço real são os soldados na linha da frente e os milhões de ucranianos que continuam a sofrer, enquanto os bastidores da política internacional transformam a guerra num negócio altamente lucrativo.